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Produtividade como prioridade estratégica da indústria brasileira

  • admjornale
  • há 7 minutos
  • 5 min de leitura

24/11/2025


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A produtividade é, hoje, um fator-chave na economia global. O Brasil, no entanto, devido principalmente a sua tradição de falta de planejamento, enfrenta desafios históricos para avançar nessa área, especialmente na indústria. Um entrave que compromete a competitividade do segmento, limita sua capacidade de inovação e dificulta o crescimento econômico sustentado do país. Ampliar o acesso às tecnologias disponíveis e modernizar o parque fabril são ações urgentes para reposicionar o setor industrial como protagonista do desenvolvimento nacional.


A força de uma indústria está diretamente associada à soma de seu capital tecnológico com seu capital humano. Atualmente, o Brasil opera com um parque produtivo defasado, que ajuda a fazer com que a produtividade tenha ficado praticamente estagnada nas últimas três décadas, voltando a cair no pós-pandemia. No último ranking global do Conference Board com 131 nações, liderado por Luxemburgo, Noruega e Dinamarca, o Brasil ocupava apenas a 78ª posição – atrás de países sul-americanos como Uruguai, Argentina e Chile.


Segundo o levantamento, em 2024 a produtividade de um trabalhador brasileiro equivalia a menos de um quarto da registrada por um trabalhador norte-americano. Claramente, essa diferença não se explica por esforço individual ou capacidade do trabalhador, mas pelas condições tecnológicas disponíveis: enquanto lá se opera com máquinas altamente eficientes, aqui ainda há forte defasagem estrutural.


Esse cenário de perda de competitividade é confirmado também por levantamentos da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a entidade, em 2024 a produtividade do setor recuou 0,8%. Isso porque o volume de horas trabalhadas no ano cresceu 4,5%, enquanto a produção aumentou apenas 3,7%. A elevação da demanda por bens manufaturados levou à contratação de novos empregados, mas sem ganhos proporcionais de produtividade, evidenciando um desequilíbrio entre crescimento e eficiência. Foi o quinto ano consecutivo de queda desse indicador, que no período acumula retração de 9%.


Mais impactante ainda é que essa retração ocorre durante um momento em que o país está próximo ao pleno emprego. Com isso, a disputa por mão de obra para atender o aumento da demanda eleva salários, sem refletir em aumento da produção. Isso encarece produtos, compromete margens e, no final de todo o processo, gera pressão inflacionária.


A superação desse panorama requer pactuação e ação coordenada. A baixa produtividade atual decorre, em grande parte, da limitação no acesso a tecnologias amplamente utilizadas em outras economias. Nesse contexto, é essencial um compromisso efetivo com a produtividade: é preciso produzir mais com os mesmos recursos humanos, não por aumento de jornada, mas por modernização de máquinas e processos. Com tecnologia adequada, o trabalhador se torna mais eficiente, os custos caem, a escala de produção cresce e a competitividade se fortalece. Isso vai permitir que o país avance sem gerar pressões inflacionárias ligadas ao custo do trabalho.


Nesse sentido, soluções muito em voga atualmente, como inteligência artificial e digitalização dos processos, representam oportunidades valiosas para o setor industrial. Contudo, ainda estão distantes da realidade da maioria das empresas brasileiras. Grandes indústrias têm avançado nessas áreas, sustentadas por capital e equipes especializadas. Já micro e pequenas empresas enfrentam entraves maiores – falta de tempo, estrutura e qualificação dificultam até mesmo a adoção de tecnologias ou ferramentas de automação mais básicas. Assim, o primeiro passo é disseminar conhecimento e ofertar apoio técnico personalizado a esses empreendedores.


Mas outro obstáculo crucial é o acesso ao crédito para investimentos em modernização e inovação. A manutenção de taxas de juros elevadas no país amplia essa dificuldade. Além disso, políticas públicas que poderiam ajudar a minimizar o problema também tropeçam nos mesmos desafios. A Nova Indústria Brasil (NIB), por exemplo, lançada pelo governo federal, prevê apoio financeiro à transformação digital e ao aumento da produtividade. Contudo, dados do Plano Mais Produção (P+P), que canaliza recursos para áreas como produtividade e inovação, revelam concentração nas médias e grandes empresas.


Análise realizada pela CNI com base no painel do P+P mostram que, entre 2023 e o primeiro trimestre de 2025, somente o BNDES aprovou 138 mil projetos, disponibilizando R$ 206,1 bilhões em recursos para essas áreas. Desse total, R$ 120,2 bilhões (58,3%) foram para grandes empresas, R$ 61,5 bilhões (29,8%) para médias, R$ 19,9 bilhões (9,7%) para pequenas e apenas R$ 4,4 bilhões (2,1%) para microempresas.


É importante ressaltar, porém, que as micro e pequenas empresas respondem pelo maior número de estabelecimentos industriais do país. No setor industrial paranaense, por exemplo, esse índice chega a quase 95% do total. Isso reforça a urgência em facilitar o acesso ao crédito e equilibrar a distribuição dos recursos entre os diferentes portes de empresas. Expandir os mecanismos de financiamento público e privado para companhias menores, proporcionando ainda orientações claras sobre os caminhos para acessar esses recursos, é fundamental.


No Paraná, o Sistema Fiep, em parceria com o Sebrae/PR e o governo do Estado, lidera a Jornada da Produtividade, voltada a micro, pequenas e médias indústrias. A iniciativa tem o objetivo de promover a digitalização dos processos produtivos e o aumento da competitividade por meio de uma jornada estruturada, que envolve consultorias, capacitações e soluções práticas conduzidas por especialistas do Senai Paraná. Em 2024, o programa atendeu 493 empresas, que alcançaram um aumento médio de 65,5% em sua produtividade. A maioria das melhorias foi baseada na metodologia de manufatura enxuta, focada na adoção de ações relativamente simples e de baixo custo para ampliar a eficiência operacional. Para 2025, a meta é atender outras 680 indústrias no estado.


Ações como essas, no entanto, deveriam estar articuladas a uma política industrial ampla, contínua e coordenada. Uma política que ultrapasse o período de um governo e que defina medidas de curto, médio e longo prazos, colocando a produtividade como diretriz transversal, vinculada a uma estratégia de desenvolvimento industrial com visão de futuro.


Mas tudo isso acaba esbarrando em um problema crônico do Brasil, que é a falta de uma cultura efetiva de planejamento público. Muitos dos obstáculos aqui listados, que hoje fragilizam a indústria brasileira nesse que é praticamente um conflito geopolítico internacional pela busca de mais produtividade e competitividade, são causados pela completa ausência de um norte claro para o desenvolvimento do país. Os impactos dos juros elevados sobre o custo do dinheiro, por exemplo, estão totalmente vinculados à expansão fiscal descontrolada, para a qual não se buscam soluções concretas e duradouras. A ausência de grandes reformas estruturantes, que proporcionem correções de rumos pensando no futuro, é outro fator que compromete o ambiente de negócios como um todo.

A produtividade, portanto, é mais uma vítima da falta de planejamento.

Colocá-la no centro de uma política industrial efetiva é essencial para fortalecer a indústria brasileira. É dela que depende a geração de empregos de qualidade, a consolidação da competitividade internacional e o avanço de um desenvolvimento econômico que seja, ao mesmo tempo, inclusivo, sustentável e estratégico para o país.


Edson Vasconcelos é engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBAs em Gestão de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Negócios Internacionais pela Ohio University, nos Estados Unidos. É presidente do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

 

 

Foto: Fiep


 
 
 

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