Com aplicativo, pinturas de pessoas em situação de acolhimento vão parar em museu virtual
- admjornale
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05/12/2025

A professora e artista visual Mariza Del Claro encontrou uma forma criativa de incentivar seus alunos de Centros Pop e das Casas de Passagem de Curitiba. Com a ajuda de um aplicativo, ela transforma as pinturas feitas nas aula em imagens que simulam as obras expostas em grandes telas dentro de museus virtuais.
Há seis meses, Mariza ministra aulas de arte para grupos de mulheres e, mais recentemente, de homens atendidos por instituições vinculadas a Fundação de Ação Social (FAS). As atividades acontecem no ateliê La Mancha, na Praça da Espanha, em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba. Desde a semana passada, as oficinas passaram a incluir também homens acolhidos da Centro Pop Doutor Faivre e da Casa de Passagem Padre Pio.
As turmas têm de cinco a seis alunos, e, em cada encontro, a professora seleciona uma obra de cada participante para integrar a exposição virtual no aplicativo. Ao som de música clássica, os estudantes produzem pinturas em guache, feitas com pincel ou mesmo com as mãos, sobre papel e tecidos semelhantes aos usados em telas.
Ao final, cada um assina sua criação e pendura o trabalho no ateliê para secagem, podendo levá-lo para casa na semana seguinte. Em algumas unidades, como na de Acolhimento Institucional Capão da Imbuia, as alunas já organizaram pequenas exposições nas paredes, exibindo suas produções.
Para os grupos que já acompanha há mais tempo, Mariza apresenta referências de artistas como Frida Kahlo, Picasso e Van Gogh, sempre como inspiração e não como limitação — é o estilo pessoal de cada aluno que ela busca fortalecer. Segundo a professora, seu principal método de ensino é o afeto.
“Recebo todos com carinho e falo sobre a importância da arte na vida deles. Peço que digam seus nomes, porque isso é o que a pessoa tem de mais importante. Reforço que eles são capazes, e fico surpresa com os resultados. São trabalhos maravilhosos”, afirma.
A transformação das pinturas em “obras de museu” fazem os olhos dos participantes brilharem. Morador da Casa Padre Pio, Márcio Aparecido dos Santos conta que mal acreditou ao ver o resultado. "Fiquei impressionado", disse.
A neuropedagoga da FAS, Grace Puchetti, ressalta que a arte desempenha papel fundamental na saúde mental e no processo de reconstrução de trajetórias marcadas pela situação de rua. "Cada ação desenvolvida junto com a Fundação Cultural desperta sensibilidade, um olhar para dentro e para o mundo. Muitos chegam com um histórico de discriminação, e esse trabalho ajuda a resgatar o sentimento de pertencimento à cidade”, explica.
Segundo Grace, é comum que os alunos cheguem tímidos, receosos da recepção em outros espaços. Quando percebem o acolhimento, ficam motivados e carregam boas memórias. É o caso de Luiz Manoel dos Santos, que trabalhou por muitos anos como pintor de residências e letreiros e que, nas aulas, reencontrou um pouco da antiga profissão.
Neste ano, a FAS firmou também uma parceria com a PUC Paraná, para que os assistido colaborassem com a pintura do refeitório da instituição. A atividade revelou talentos e reforçou a autoestima dos participantes.
FOTO: Luiz Pacheco/FCC








