Ciclones, tornados ou furacões: Simepar explica a diferença entre os fenômenos
- admjornale
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22/12/2025

Após a passagem de três tornados no início de novembro pelo Paraná, ocasionando mortes e prejuízos em 11 municípios, fenômenos de grande impacto como este despertaram a curiosidade da população. Como diferenciar um tornado, de um ciclone, de um furacão? A explicação vem da equipe de meteorologia do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).
A principal diferença entre os ciclones e os tornados está no tamanho e no tempo de duração. “Os ciclones são sistemas atmosféricos de baixa pressão, caracterizados por ventos que giram em espiral em torno de um centro. Essa rotação ocorre no sentido horário no Hemisfério Sul, devido à ação da força de Coriolis, que é o efeito da rotação da Terra sobre a movimentação do ar”, conta Júlia Munhoz, meteorologista do Simepar.
Em um ciclone, o ar tende a subir no centro, favorecendo a formação de nuvens e chuva. São fenômenos de grande escala, capazes de alcançar centenas ou até milhares de quilômetros (o tamanho de um estado, por exemplo). Eles podem se formar por diferentes processos: alguns dependem do encontro entre massas de ar quente e frio, enquanto outros surgem em ambientes muito quentes e úmidos, alimentados pela energia liberada durante a formação de nuvens.
“Os ciclones são muito frequentes na América do Sul. Como exemplo, toda frente fria que avança é associada a um ciclone. Eles podem perdurar por vários dias”, ressalta Júlia. Há vários tipos de ciclones, e a classificação depende do comportamento da temperatura com a altitude, e do local de formação.
EXTRATROPICAIS - Os ciclones extratropicais aparecem principalmente em latitudes médias, onde é comum o encontro entre ar quente e ar frio. “Esse contraste cria frentes frias e quentes, que organizam o ciclone e conferem uma estrutura mais alongada e irregular. Esse tipo de ciclone costuma formar sistemas frontais que provocam mudanças no tempo, com chuva e ventos fortes e posterior queda de temperatura”, explica Júlia. Os ciclones extratropicais se formam com maior frequência sobre o oceano, na altura do litoral uruguaio e gaúcho.
SUBTROPICAIS - Já os ciclones subtropicais têm características intermediárias: formam-se sobre o oceano, em áreas de temperatura moderada. “Parte do sistema é mais quente e úmida próxima ao centro, enquanto outra parte recebe influência de ar mais frio em níveis mais altos. O resultado é um ciclone parcialmente simétrico, mas não tão organizado quanto um ciclone tropical”, conta Júlia. Os ciclones subtropicais são pouco frequentes no Sul do Brasil.
TROPICAIS - Também existem os ciclones tropicais. Eles se desenvolvem sobre águas quentes, que fornecem calor e umidade para alimentar tempestades profundas. “Esses sistemas são mais simétricos, com um centro bem definido e um núcleo quente em altitude. Quando alcançam ventos muito fortes, recebem diferentes nomes conforme a região do planeta: furacão no Atlântico Norte e Pacífico Nordeste, tufão no Pacífico Noroeste e ciclone tropical severo em partes do Índico e Pacífico Sul”, informa a meteorologista.
Apesar das variações de nomenclatura, furacões, tufões e ciclones tropicais intensos são essencialmente o mesmo fenômeno, nomeados de acordo com a bacia oceânica onde ocorrem. Devido à condição de temperaturas não costumam se formar sobre o Atlântico Sul, que tem águas mais frias.
Até hoje, o único furacão nesta região foi o Catarina, em março de 2004, que impactou diretamente o litoral norte do Rio Grande do Sul, o litoral sul de Santa Catarina, e causou ventos de mais de 180km/h em superfície no litoral paranaense, de forma constante, por algumas horas.
TORNADOS - Já os tornados, são fenômenos muito menores e extremamente concentrados. Eles geralmente se originam de tempestades severas, especialmente supercélulas, que possuem uma região de rotação interna, denominada de mesociclone.
“O tornado se forma quando essa rotação se intensifica e se estende até o solo. Embora seus ventos possam superar os de um furacão, os tornados têm dimensões muito reduzidas — normalmente centenas de metros a poucos quilômetros — e duram poucos minutos. Seus impactos são altamente localizados, enquanto os ciclones podem afetar regiões inteiras durante vários dias”, ressalta Júlia.
Na imagem a esquerda, o quadrado branco destacando uma supercélula vista através do satélite GOES-19. Esta supercélula está embebida no ramo de uma frente fria que está associada a um ciclone extratropical. Já na imagem a direita é a visão ampliada da supercélula, vista pela refletividade do radar meteorológico do Simepar. Nesta ocasião, o tornado é apenas uma área pequena da supercélula. Imagem de satélite, fonte: CPTEC / INPE. Imagem de radar, fonte: Simepar.
Os tornados são mais propensos a se formar na região Centro-Sul da América do Sul, especialmente no oeste dos estados do Sul do Brasil, o que representa cerca de 70% das ocorrências de tornados no país. “Essa maior propensão está relacionada, em grande parte, ao papel da Cordilheira dos Andes, que atua como uma barreira topográfica canalizando o escoamento de noroeste em níveis médios da atmosfera (por volta de 1.500 metros).
Esse escoamento canalizado transporta grande quantidade de umidade da Amazônia e o para o Centro-Sul do continente, favorecendo um acúmulo de umidade sobre a Região Sul do Brasil”, explica Samuel Braun, meteorologista do Simepar.
Além disso, essa região tem a frequente influência da passagem de sistemas frontais, especialmente frentes frias, que introduzem massas de ar com características muito distintas. O encontro entre ar quente e úmido e ar frio aumenta a instabilidade atmosférica e intensifica o contraste térmico.
“Esse contraste contribui para a aceleração dos ventos com a altura, gerando cisalhamento vertical do vento. Esse mecanismo cria rotação horizontal no escoamento do ar. Quando essa rotação é incorporada a uma corrente ascendente intensa — típica de tempestades severas — o tubo de ar em rotação é inclinado e verticalizado, podendo originar a estrutura rotativa característica de tornados associados a supercélulas”, afirma Samuel.
Foto: Gilson Abreu/Arquivo AEN









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