Brasileiros movimentam R$ 30 bilhões por mês em bets esportivas
- JORNALE
- 29 de abr.
- 2 min de leitura
29/04/2025
Psicólogo alerta para os riscos do vício em apostas

As apostas esportivas se popularizaram rapidamente no Brasil. Com propagandas em estádios, camisas de times e até nos intervalos da televisão, elas já fazem parte do cotidiano de muitos brasileiros. Mas por trás da promessa de lucro fácil, existe um universo de ansiedade, endividamento e prejuízo emocional.
No início deste mês (abril/2025), o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que o fluxo financeiro mensal movimentado pelas plataformas de apostas pode chegar a R$ 30 bilhões por mês. Já uma pesquisa do Instituto DataSenado, divulgada em outubro de 2024, revelou que cerca de 22 milhões de brasileiros apostaram em jogos online nos 30 dias anteriores à pesquisa. Isso representa um gasto médio estimado de R$ 1.364 por mês por apostador – valor que corresponde a quase um salário mínimo, atualmente fixado em R$ 1.518.
“O número assusta, especialmente quando percebemos que muitas pessoas estão comprometendo boa parte ou até mais do que ganham com apostas. Isso não é lazer, é um sintoma de um problema que está crescendo exponencialmente e de forma silenciosa”, alerta Angelo Mattioli, psicólogo especialista em psicologia financeira.
O que poderia ser feito com esse dinheiro?
Mattioli, que além de psicólogo é economista, faz uma comparação entre o gasto médio em apostas e investimentos: “Se uma pessoa investisse os mesmos R$ 1.364 por mês em um fundo de ações com rendimento médio de 12% ao ano, ao final de um ano ela teria acumulado aproximadamente R$ 17.500. Em cinco anos, mantendo esse ritmo de investimento, esse valor poderia ultrapassar R$ 100 mil.
“Enquanto nas apostas a chance de prejuízo é real e constante, nos investimentos há construção de patrimônio e segurança no longo prazo. Mas o imediatismo fala mais alto”, comenta o psicólogo.
Sinais de alerta: quando o jogo perde o controle
Segundo Mattioli, alguns comportamentos são indicativos de que as apostas deixaram de ser uma atividade pontual para se tornarem um problema:
• Apostar para tentar recuperar perdas anteriores, numa espiral de prejuízo emocional e financeiro;
• mentir para familiares ou parceiros sobre quanto está gastando com apostas, por medo de julgamento ou de brigas;
• negligenciar outras áreas da vida, como deixar de pagar contas, faltar ao trabalho, ou evitar encontros sociais por estar focado em apostas;
• sentir ansiedade, irritação ou abstinência ao ficar longe das plataformas;
• buscar constantemente “dicas” ou estratégias como se houvesse um método infalível, o que reforça a ilusão de controle.
“Essas plataformas exploram mecanismos psicológicos muito bem estudados, como a recompensa intermitente e o reforço positivo. Isso torna o comportamento altamente viciante. Não é falta de força de vontade — é um ciclo difícil de romper sozinho”, reforça.
Apoio é fundamental
O profissional tem observado um aumento significativo na procura por atendimento terapêuticos relacionado à ansiedade financeira e ao vício em apostas. “As pessoas não estão doentes por apostarem. Elas apostam porque muitas vezes estão tentando lidar com dores emocionais, frustrações, baixa autoestima ou um vazio interno difícil de nomear. É preciso acolher, entender e oferecer alternativas saudáveis”, conclui.
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