Centro POP Doutor Faivre implanta o Conectando Vidas para fortalecer reinserção social de pessoas em situação de rua
- admjornale
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23/07/2025

Desde o último dia 7, o Centro POP Doutor Faivre, que funciona no Centro Intersetorial de Atenção à População em Situação de Rua (FAS SOS), da Fundação de Ação Social (FAS), em Curitiba, adotou um novo modelo de atendimento: o projeto Conectando Vidas. A proposta é oferecer um acompanhamento individualizado para promover a autonomia dos usuários, ampliar o acesso a direitos e promover a reintegração social de forma efetiva. Em duas semanas 48 pessoas já foram atendidas e encaminhadas para vários serviços.
Por meio de uma abordagem humanizada e interdisciplinar, a equipe técnica considera as necessidades, potencialidades e desafios individuais das pessoas que aderem ao projeto. A construção de um plano de atendimento personalizado é um dos diferenciais, com metas pactuadas junto ao usuário.
A coordenadora do Centro POP Doutor Faivre, Eridan Rocha, explica que o projeto foi criado em função da dificuldade de adesão às propostas de encaminhamento feitas às pessoas atendidas na unidade, que está localizada no Centro.
“Estávamos com um número muito grande de pessoas que não aderiam aos encaminhamentos. Eram orientadas, encaminhadas, e no dia seguinte estavam de volta, sem ter dado andamento. Percebemos que era preciso algo mais próximo, mais contínuo”, explica Eridan.
O projeto
A solução encontrada pela coordenadora foi designar a cada educador social um grupo de usuários para acompanhar de forma personalizada, com foco no vínculo e na responsabilização compartilhada. Todo o trabalho parte do atendimento técnico dos assistentes sociais.
“Agora, cada educador faz o levantamento completo das demandas da pessoa, elabora junto com ela um plano de atendimento e cobra os retornos. Esse contato mais próximo tem feito muita diferença”, afirma a Eridan.
O projeto tem chamado a atenção dos usuários, segundo Eridan. “Antes cada educador atendia cinco usuários, mas esse número já passou para oito. Hoje eles pedem para serem acompanhados”, conta.
Construção de vínculo
Eridan diz que, muitas vezes, a ausência de apoio imediato faz com que a pessoa desista de buscar ajuda e retorne à rua. O vínculo com o educador social e o técnico de referência, que é o assistente social, contribui no processo para interromper esse ciclo.
A coordenadora também destaca que o Conectando Vidas teve impacto positivo na equipe. “O projeto tem motivado os servidores. Eles se sentem parte do processo, acompanham a evolução dos usuários, criam laços de confiança e entendem que fazem parte da mudança na vida daquela pessoa”, diz.
Caminhos para superação
Entre os principais objetivos do projeto Conectando Vidas está a realização de uma escuta ativa e qualificada, identificar demandas de saúde física e mental e a construção conjunta de um plano de atendimento, com metas e estratégias voltadas à superação da situação de rua.
Além disso, o projeto trabalha para facilitar o acesso a documentos pessoais, serviços socioassistenciais, programas de habitação, qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho. Todo esse processo é continuamente monitorado, com reavaliações periódicas do plano de ação para garantir a efetividade das intervenções.
Um agente de transformação social
Para a diretora de Atenção à População em Situação de Rua da FAS, Maria Vanderleia Garcia Santos, a iniciativa reforça o papel estratégico dos Centros POP como unidades especializadas no atendimento a esse público. “Esse é um trabalho de excelência, feito com vínculo, escuta e valorização do potencial de cada pessoa. O trabalhador social é um agente de transformação, um viabilizador de possibilidades”, afirma.
Para Maria Vanderleia, os Centros POP são fundamentais para a construção de estratégias realistas e efetivas de superação da situação de rua. “É preciso olhar para cada usuário com respeito à sua história, às suas limitações e potencialidades. E construir com ele, e não para ele, caminhos de mudança.”
Esperança de nova vida
Em 48 atendimentos feitos até agora, 17 pessoas estão empregadas e foram encaminhadas para hotéis sociais mantidos pela Prefeitura, 11 para unidades de acolhimento, cinco para comunidades terapêuticas, além de oito que iniciaram tratamento em CAPs e dois decidiram voltar para suas famílias. O restante continua em acompanhamento no Centro POP e foram encaminhados para serviços de saúde e documentação.
Entre os usuários atendidos está o curitibano Ubiratã Adauto de Souza, 58 anos. Depois de quase duas décadas em que entrou e saiu da situação de rua, ele sonha agora em mudar de vida. Ubiratã conta que já trabalhou no Corpo de Bombeiros, mas acabou abandonando a carreira, em função da dependência química. “Já tive carro, emprego estável e uma vida estruturada.”
Ubiratã diz que agora vive um novo momento. Recentemente, ele foi acolhido em um hotel social e, em seguida, encaminhado para a Unidade de Acolhimento Institucional (UAI) Boqueirão. Ele também passou por consulta médica, iniciou tratamento de saúde e fez a emissão da carteira de trabalho digital para buscar um novo emprego.
“Hoje, a Eridan é uma luz no meu caminho. A UAI é muito boa, vai ser meu porto seguro”, diz. Para o futuro, os planos de Ubiratã são simples. “Não penso em ficar rico. Quero só poder trabalhar, abrir uma poupança com meu auxílio social e ter uma vida tranquila”, conta.
Centro POP Doutor Faivre
O Centro POP Doutor Faivre foi inaugurado em janeiro de 2024 e funciona dentro da FAS SOS, a maior unidade de atendimento à população em situação de rua da FAS. No local, os usuários encontram serviços de várias políticas públicas que contribuem para a construção de projetos de vida. Entre eles, acolhimento, atendimento técnico, alimentação, guarda de pertences, saúde, cursos e encaminhamentos para vagas de emprego.
Além do Faivre, Curitiba conta com outros dois Centros POP: o Solidariedade, na Praça Plínio Tourinho, no Rebouças, e o Boqueirão, no bairro de mesmo nome.
Foto: Sandra Lima
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