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Tite vê seleção mais preparada para a Copa do Qatar do que em 2018

  • Foto do escritor: JORNALE
    JORNALE
  • 22 de out. de 2022
  • 6 min de leitura

22/10/2022


O técnico precisou recriar o time mais de uma vez ao longo do ciclo



A seleção brasileira está mais preparada para a Copa do Mundo do Qatar do que estava há quatro anos, na Rússia? Na opinião de Tite, sim. À frente da equipe na segunda edição consecutiva -um feito que só Zagallo e Telê Santana tinham alcançado até então-, o treinador acredita ter conseguido preparar melhor a equipe dentro e fora de campo. “O tempo me permitiu até errar”, brinca Tite nos bastidores.


São vários os fatores que dão ao técnico a confiança para pensar assim. Alguns deles são até naturais, como a continuidade e maior tempo no comando da seleção, e outros foram planejados ao longo do ciclo de quatro anos desde a Copa da Rússia, quando o Brasil foi eliminado pela Bélgica nas quartas de final.


O desempenho da seleção nas Eliminatórias, quando conseguiu a melhor campanha da história do formato mesmo com um jogo a menos, ajuda a demonstrar a evolução da equipe entre os ciclos notada por Tite. Mas há muito para além dos resultados, como o uso de mais jogadores, mais variações táticas, mais experiências boas e ruins, mais atenção a detalhes logísticos, mais sintonia entre comissão técnica e elenco e até o desenvolvimento pessoal. É que Tite se vê um técnico melhor em 2022 do que era em 2018.


A escalação da seleção eliminada pela Bélgica em 2018 foi a seguinte: Alisson; Fagner, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Fernandinho, Paulinho (Renato Augusto) e Philippe Coutinho; Willian (Firmino), Neymar e Gabriel Jesus (Douglas Costa).


Deles, só Alisson, Thiago Silva, Coutinho, Firmino, Neymar e Gabriel Jesus ainda fazem parte da equipe ou têm convocações recentes. De 14, oito ficaram pelo caminho.


Alguns novatos emergiram e afundaram ao longo dos quatro anos, como o atacante Everton Cebolinha. De esperança de jogadas de habilidade com o nome cantado pela torcida na Copa América de 2019 a não convocado desde junho de 2021. David Neres é outro que teve sequência como titular na seleção, mas acabou sumindo das convocações.


Ainda teve casos como do volante Arthur, titular absoluto depois do Mundial e peça importante no título da Copa América, mas que rodou de clube em clube e deixou a preferência de Tite, e Gabigol, com boa sequência na Copa América 2021, mas sem se firmar na seleção.


O técnico precisou recriar o time mais de uma vez ao longo do ciclo para o Qatar. As formações atuais são recentes, se consolidaram há pouco mais de um ano. Uma delas tem Raphinha e Vini Jr como titulares, dois jovens que não têm nem 20 jogos pela seleção. Junto com Antony e Rodrygo, a dupla forma o grupo apelidado de “perninhas rápidas” para quem Tite abriu caminho na seleção na reta final da preparação. A porta continua aberta.


Se em 2016 Tite assumiu a seleção em meio às Eliminatórias para evitar o vexame de ficar fora da Copa do Mundo, desta vez a seleção nunca passou por dificuldades no torneio classificatório. Pelo contrário: o time de Tite estabeleceu um novo recorde de pontuação.


Invicta, a seleção brasileira somou 45 pontos em 17 jogos. Mesmo com uma partida a menos por causa da confusão que acabou cancelando o duelo contra a Argentina, o Brasil de Tite bateu o recorde que era dos ‘hermanos’ de Marcelo Bielsa nas Eliminatórias para a Copa de 2002 -em 18 jogos, a equipe argentina tinha marcado 43 pontos.


Desde que assumiu a seleção, Tite soma 75 jogos, com 56 vitórias, 14 empates e cinco derrotas. Foram 161 gols marcados e 26 sofridos. Em jogos oficiais, Tite só saiu derrotado contra a Bélgica, na Copa de 2018, e a Argentina, na final da Copa América em 2021.


Apesar dos números positivos, a seleção chega ao Qatar com uma lacuna em sua preparação: de 50 jogos, só um foi contra adversário europeu. Além da República Tcheca em março de 2019, mais nada. Isso se deve à criação da Liga das Nações que ocupou todo o calendário das seleções europeias. Publicamente, a seleção tenta ponderar essa brecha dizendo que França, Alemanha e Inglaterra também não puderam enfrentar Brasil e Argentina para testar seu nível, mas Tite sabe que faz falta.


“Eu preferia ter mais jogos, um intercâmbio maior. Talvez isso nos proporcionasse uma maturidade e desempenho maiores”.


A impressão geral depois da Copa do Mundo de 2018 foi que Tite viveu e morreu com suas convicções. Ao mesmo tempo em que resgatou a seleção que estava em sexto nas Eliminatórias com Dunga, essa realidade atrapalhou a trajetória no Mundial.


O principal problema foi a gestão dos problemas físicos do elenco. O caso do volante Fred é emblemático. Ele se machucou numa dividida com Casemiro antes do início da Copa. Tite optou por mantê-lo no elenco mesmo autorizado a fazer a troca e acabou tendo uma opção a menos durante a competição, porque Fred não jogou.


Além de Fred, Douglas Costa chegou à Copa lesionado. Ele se recuperou ao longo do torneio, se machucou de novo e só ficou disponível em dois dos cinco jogos. Por fim, Renato Augusto sentiu um incômodo no joelho por causa da sobrecarga de treinamentos na Granja Comary e teve participação limitada.


Além disso, Tite insistiu em jogadores que não renderam o esperado ao longo da campanha. As trocas foram motivadas somente por suspensões ou lesões. Fora isso, o time foi o mesmo do começo ao fim apesar do desempenho contestável de Paulinho, Willian e Gabriel Jesus.


Ele diz que sim e os números do ciclo para a Copa têm concordado. Em proporção, a quantidade de jogadores testados é maior agora do que em 2018.


Dois exemplos simples: entre 2016 e o fim da Copa de 2018, Tite escalou o goleiro Alisson em 22 de suas 26 partidas do pequeno ciclo. Nenhum outro goleiro jogou mais de duas vezes. Já o volante Casemiro foi titular em 17 jogos, enquanto Fernandinho não passou de dez. Eram posições com titulares consolidados e reservas pouco testados no esquema.


Para 2022, o cenário mudou. Alisson ainda é o preferido no gol, mas sua participação em jogos caiu de 85% para 53%, o que permitiu que Ederson (16 jogos em 50) e até o terceiro goleiro Weverton (6 jogos) fossem testados.


No meio-campo, Casemiro também mantém a titularidade com 37 jogos disputados em 50. Mas o atual reserva Fabinho, entre saídas do banco e partidas como titular, chegou a 23 no ciclo. Isso tudo significa que há mais jogadores testados e prontos para jogar na seleção que vai para o Qatar. Uma chance a mais de evitar o risco de 2018, quando Fernandinho substituindo o suspenso Casemiro foi um dos piores em campo contra a Bélgica.


Já do ponto de vista físico, a respeito da gestão de lesões, Tite tem deixado recados públicos nos últimos tempos. “Ou o atleta está performando no mais alto nível ou está fora”, disse em setembro.


A Copa será no meio da temporada europeia, com os jogadores no ápice da performance física, mas desgastados pela sequência de jogos nos clubes. O preparador Fábio Mahseredjian já definiu a programação, que prevê treinos leves nos primeiros três dias e depois atividade normal. São apenas dez dias entre a apresentação do elenco e a estreia na Copa, é preciso que todos estejam bem, então o profissional já avisou: “Não quero, mas pode ter atleta cortado no dia 13 de novembro por esse motivo.”


Não gosto de comparar um ciclo [de Copa] ao outro, porque são situações diferentes, todas as circunstâncias são diferentes. Neste, há um processo de início, meio e fim e isso traz benefícios para o futebol brasileiro. A possibilidade maior de sucesso respeita processos, digo isso para todos os dirigentes do futebol brasileiro e também para o técnico que vier depois de mim: respeitem os processos, deem tempo para o trabalho ter início, meio e fim. Vai chegar e ser campeão mundial? Não posso assegurar. Mas que a chance maior de sucesso é respeitando processos, sim.”


Antes mesmo do início da pré-temporada 2022/23, Neymar já dava indícios do foco com que trataria o período que antecede a Copa do Qatar. O craque brasileiro iniciou trabalhos antes dos demais e relatos dão conta de que era o primeiro a chegar e o último a sair.


Em uma live na Twitch, deixou evidente seu otimismo para a temporada ao dizer que estava sentindo que tudo que tentasse iria entrar. Em diversas postagens voltou a reforçar o desejo de ser hexa e chegou a brincar com Mbappé em entrevista para canais do clube ao dizer que em novembro a França voltaria para casa e em dezembro o Brasil levantaria a taça.


E a confiança se refletiu no desempenho em campo, o melhor início de temporada de Neymar em solo europeu. O esquema adotado pelo novo técnico Christophe Galtier também beneficiou o camisa 10, dando mais liberdade para combinar com Lionel Messi, seu amigo fora de campo.


Assim como na seleção, agora Neymar também tem no PSG mais “liberdade criativa” -como Tite gosta de chamar- e menos responsabilidades defensivas. O resultado é uma participação ofensiva sem igual.

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