13/01/2022
Pesquisadores listam diversos fatores de risco para o surgimento de infecções
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta de ameaça à saúde pública por causa do terceiro surto no Brasil de Candida auris, fungo resistente a medicamentos e responsável por infecções hospitalares que se tornou um dos mais temidos do mundo.
Segundo o órgão, em documento de 11 de janeiro de 2022, foram identificados no primeiro mês deste ano dois casos de infecção pelo fungo envolvendo um paciente de 67 anos e outra de 70 anos que estavam internados num hospital da rede pública do Recife. Não foram divulgadas informações atualizadas sobre o estado de saúde deles.
Ao longo da pandemia de Covid-19, a Anvisa confirmou 18 casos da infecção em três surtos diferentes. O primeiro caso confirmado foi identificado em uma amostra da ponta de um cateter de paciente internado em UTI de Salvador, local dos dois primeiros surtos: um em dezembro de 2020 (com 15 casos e dois mortos em um hospital da rede privada) e outro em dezembro de 2021 (com um caso em um hospital da rede pública).
Mas pode chamar de surto com essa quantidade relativamente pequena de casos? Segundo a Anvisa, "pode-se considerar que há um surto de Candida auris porque a definição epidemiológica de surto abrange não apenas uma grande quantidade de casos de doenças contagiosas ou de ordem sanitária, mas também o surgimento de um microrganismo novo na epidemiologia de um país ou até de um serviço de saúde – mesmo se for apenas um caso. "
A infecção por C. auris é resistente a medicamentos e pode ser fatal. Em todo o mundo, estima-se que infecções fúngicas invasivas de C. auris tenham levado à morte de entre 30% e 60% dos pacientes. Mas esses números costumam variar bastante a depender das variáveis envolvidas, a exemplo da gravidade da doença que levou o paciente ao hospital (como a Covid-19) e da capacidade do fungo de resistir ou não aos medicamentos.
Segundo a Anvisa, essa espécie de fungo produz "biofilmes tolerantes a antifúngicos apresentando resistência aos medicamentos comumente utilizados para tratar infecções por Candida" e até 90% das amostras de Candida auris analisadas apontam resistência ao fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Em seu alerta, a Anvisa afirma que tem analisado casos suspeitos do fungo desde 2017, mas os primeiros só foram confirmados durante a pandemia de Covid-19. E o Brasil não foi o único a registrar infecções desse tipo nesse período ligados ao novo coronavírus.
Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) registrou 1.156 casos clínicos de Candida auris entre 1º de setembro de 2020 e 31 de agosto de 2021. Não há informações sobre o número de mortos. Até 2016, o fungo havia sido detectado em apenas 4 estados americanos. O número saltaria para 19 estados em 2020.
No México, um surto de Candida auris começou com um paciente que não estava infectado com coronavírus em maio de 2020, momento que o hospital San José Tec-Salud, no norte do país, era transformado em uma unidade de saúde exclusiva para pacientes com Covid-19.
Três meses depois, o fungo Candida auris foi detectado em três UTIs e atingiu 12 pacientes e três áreas hospitalares. Dez eram homens, 9 eram obesos e todos eles respiravam com auxílio de respiradores mecânicos, tinham cateter urinário e venoso e estavam internados de 20 a 70 dias ali. Dos 12 pacientes, 8 morreram.
Na Índia, o surto de candidemia atingiu 15 pacientes com coronavírus em uma UTI em Nova Déli entre abril e julho de 2020. Do total, 10 estavam infectados por Candida auris e 6 deles morreram.
No caso do Brasil, um grupo de dez pesquisadores brasileiros e holandeses investigou o primeiro surto em Salvador, em dezembro de 2020, e a relação dos casos com a Covid-19. Segundo artigo publicado em março de 2021 no Journal of Fungi, todos os pacientes atingidos eram oriundos do próprio estado (Bahia), não tinham histórico de viagem para o exterior e estavam internados na mesma UTI por causa do coronavírus.
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