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Pandemia de Covid-19 causa retrocesso no combate à tuberculose no Brasil

22/03/2022


Na Semana Nacional de Mobilização e Luta contra a doença, Conselho Regional de Biomedicina do Paraná alerta para a subnotificação de casos



A tuberculose, apesar de antiga, não é coisa do passado. Descoberta há 140 anos, com vacina disponível no Brasil e tratamento gratuito oferecido pelo SUS, a doença ainda é um grave problema de saúde pública e teve seu quadro agravado durante a pandemia de Covid-19.


De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a crise do novo Coronavírus causou um retrocesso no combate à tuberculose, acentuando a subnotificação, dificultando a oferta de serviços de saúde e de recursos para o tratamento da doença e prejudicando o diagnóstico.


O número de pacientes diagnosticados e de casos notificados no mundo caiu de 7,1 milhões em 2019 para 5,8 milhões em 2020, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A estimativa é que, atualmente, cerca de 4,1 milhões de pessoas sejam vítimas da enfermidade, mas não tenham sido corretamente diagnosticadas. O número é bem superior aos 2,9 milhões de subnotificações estimadas em 2019.


Os dados não deixam dúvidas de que é preciso falar sobre a doença. O Brasil tem, inclusive, uma Semana Nacional de Mobilização e Luta contra a Tuberculose, que vai de 24 a 31 de março.


Números no Brasil

Em 2020, o país registrou 66.819 novos casos da doença, com um coeficiente de incidência de 31,6 casos por 100 mil habitantes. Os dados são do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.


A mestre em Microbiologia, Parasitologia e Patologia, Jannaína Ferreira de Melo Vasco, entende que o acesso à informação e aos exames é fundamental para reduzir o número de mortes por tuberculose no Brasil.


“Todas as pessoas que seguem o tratamento corretamente, sem desistir no meio do caminho, ficam curadas da doença. Hoje, o Brasil está entre os 30 países de alta carga para a tuberculose, sendo considerado prioritário para o controle da enfermidade”, comenta a especialista, que é a primeira secretária do Conselho Regional de Biomedicina do Paraná – 6ª Região (CRBM6).


O caminho da cura

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, mais conhecida por “bacilo de Koch”. A doença afeta prioritariamente os pulmões e embora tenha sido identificada em 1882 pelo médico alemão Robert Koch – que abriu o caminho para o diagnóstico e a cura –, a tuberculose ainda é a segunda causa de infecção mais mortal do mundo, perdendo apenas para a Covid-19.


O tratamento contra a doença é gratuito no Brasil e dura cerca de seis meses, mas segundo Jannaína Vasco, um dos principais entraves é a desistência dos pacientes, já que o tratamento é longo se comparado a outras enfermidades.


“A pessoa com tuberculose precisa ser bem orientada sobre a duração e o esquema do tratamento, incluindo as possíveis consequências do uso irregular dos medicamentos. Isso porque, já nas primeiras semanas, o paciente se sente melhor e é comum que deixe de tomar a medicação”, comenta a especialista.


Ela alerta que a irregularidade no tratamento pode complicar a saúde do paciente e levar ao desenvolvimento de tuberculose resistente. “A boa notícia é que a tuberculose tem cura quando o tratamento é feito da maneira correta, de acordo com as recomendações do médico”, completa a especialista.


Biomedicina ganha espaço

A biomedicina vem ganhando notoriedade como uma ciência com atuação em diversas áreas da saúde, incluindo a pesquisa e o diagnóstico de doenças. O biomédico Lincoln Luís Silva, doutorando da Duke University, na cidade de Durham (EUA), é membro do grupo de estudos Global Emergency Medicine Innovation and Implementation Research (GEMINI) Lab.


Segundo ele, há anos são pesquisadas substâncias com potencial para uso no tratamento da tuberculose, formas para melhorar o diagnóstico da doença e traçar o perfil de resistência da bactéria. “Tudo isso oferece um grande suporte à clínica médica, mas os ramos de atuação da biomedicina vão muito além.”


Lincoln Silva explica que a epidemiologia da doença também tem sido de grande interesse para os profissionais da área, pois permite a criação de medidas de baixo custo e de alta eficiência no combate à doença, uma vez que pesquisas clínicas, diagnósticos e tratamentos para a tuberculose são altamente dispendiosos para o governo.


“Estamos trabalhando em uma dissertação de mestrado do Programa Ciências da Saúde, da Universidade Estadual de Maringá, realizado pelo estudante Henderson Junior Narciso, para verificar o impacto da Covid-19 nas notificações dos casos de tuberculose no Estado do Paraná”, conta o biomédico.


O estudo ecológico com abordagem geoespacial tem como objetivo checar se os locais de alta concentração dos casos de Covid-19 se sobrepuseram aos locais que, historicamente, são regiões de alta incidência de tuberculose.


“É possível que a queda nas notificações de tuberculose tenha sido causada pela Covid-19, o que resultaria na redução do acesso aos cuidados de saúde e, portanto, no aumento da mortalidade por tuberculose no Estado”, avalia.


Como a doença é transmitida?

A tuberculose é uma doença de transmissão aérea e pode ocorrer durante a fala, espirro ou tosse de pessoas contaminadas, que lançam no ar partículas em forma de aerossóis contendo bacilos. De acordo com o Ministério da Saúde, um indivíduo com baciloscopia positiva pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.


A tuberculose não é transmitida por objetos compartilhados como talheres, copos, entre outros. Em geral, após 15 dias de tratamento, o infectado deixa de transmitir a doença, mas o ideal é que as medidas de controle sejam implantadas até que haja a negativação da baciloscopia. A recomendação é cobrir a boca com o braço ou um lenço ao tossir e manter o ambiente bem ventilado.


Atenção aos sintomas

Tosse por mais de duas semanas, febre, sudorese noturna, emagrecimento, cansaço, dor no peito e escarro com sangue em casos mais graves.


O que fazer se apresentar sintomas?

É fundamental procurar a unidade de saúde mais próxima para avaliação médica e realização de exames. Se o resultado for positivo para tuberculose, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível. É fundamental seguir o tratamento até o final para evitar complicações da doença.


Como a tuberculose é diagnosticada?

O diagnóstico da tuberculose é feito por meio de exames bacteriológicos (baciloscopia, teste rápido molecular para tuberculose e cultura para micobactéria), além de exame de imagem complementar (radiografia de tórax).


A biomedicina tem atuação importante nos diagnósticos. Os exames bacteriológicos como a baciloscopia direta é a técnica mais utilizada no Brasil. Quando executada corretamente e por profissionais como biomédicos, detecta de 60% a 80% dos casos com resultados em até 48 horas.


Como prevenir?

Vacinando as crianças. A vacina BCG (Bacilo Calmette-Guérin) é gratuita no SUS. A imunização protege contra as formas mais graves da doença.


As doses estão disponíveis nas unidades básicas de saúde, maternidades e devem ser dadas aos pequenos ao nascer ou, no máximo, até os quatro anos de idade.

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