11/01/2024
Parte dos maiores credores da rede separou recursos o suficiente para cobrir o calote
A fraude contábil que levou a Americanas à recuperação judicial há um ano teve um custo de, pelo menos, R$ 14,2 bilhões para os grandes bancos do País. Esse foi o valor que as instituições credoras da rede varejista separaram em provisões adicionais contra uma possível inadimplência da companhia, diante do processo de proteção contra execuções de dívida e dos atrasos no fechamento do acordo, assinado em novembro do ano passado. Com essas reservas extras, o lucro dos bancos ficou menor.
Parte dos maiores credores da rede separou recursos o suficiente para cobrir um calote de 100% da dívida da empresa já nos balanços referentes ao ano de 2022, divulgados semanas após a comunicação do rombo. Esses foram os casos de Bradesco e Itaú Unibanco, por exemplo.
O Banco do Brasil, que inicialmente provisionou metade do crédito, elevou a exposição a 100% do total no segundo e no terceiro trimestres, diante do atraso no acordo com a companhia. Outros bancos fizeram movimento similar.
O “custo Americanas” começou a surgir nos balanços do quarto trimestre de 2022, em que muitos bancos fizeram um colchão para possíveis perdas com os créditos da companhia de forma preventiva. Naquele momento, os empréstimos da rede ainda não haviam entrado em atraso, mas com a divulgação de um rombo que chegou a R$ 25,2 bilhões e a recuperação judicial, os bancos preferiram envergar o escudo antes que isso acontecesse.
Embora tenha saído relativamente rápido, em menos de um ano, o acordo entre a empresa e os credores atrasou diante da falta de demonstrações financeiras auditadas, publicadas somente em novembro. Neste período, os empréstimos da Americanas começaram a atrasar, o que obrigou os bancos a elevarem as provisões.
Ao todo, a Americanas tem R$ 36,8 bilhões em dívidas com credores financeiros, o que inclui, além dos bancos, os detentores de títulos de dívida emitidos no Brasil e no exterior. Esse grupo poderá participar da capitalização da companhia com um montante total de R$ 12 bilhões. O restante da dívida será refinanciado ou recomprado pela empresa.
Isto significa que os bancos passarão a ser acionistas da rede, com uma fatia de até 48% do capital. Como as dívidas vão virar ações, a recuperação de crédito se dará, na prática, com a venda dos papéis em bolsa, que os bancos poderão fazer de forma escalonada nos três anos seguintes. Mas é improvável que a venda aconteça rapidamente. Cada ação será subscrita a R$ 1,30, ante uma cotação de cerca de R$ 0,90 na B3. Ou seja, se a capitalização já tivesse ocorrido e os bancos vendessem ações hoje, “perderiam” dinheiro.
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